segunda-feira, 17 de maio de 2010

Quem manda?

A pergunta é clássica e perdura ao longo dos tempos, as respostas variam segundo as circunstâncias. Nós temos muitos manuais sobre política pensada, alguns excelentes, mas curiosamente poucos sobre a política vivida. Estranhamente, ou talvez não, são poucos os testemunhos (não falo de artigos de opinião, nem de discursos publicados em livro), sobre o lado mais interior da política. Os bastidores são um imenso desconhecido para o comum cidadão e há mesmo quem defenda que assim deve ser, desde logo para que os sistemas possam minimamente funcionar.

Na verdade o jogo político, quer do lado da conquista do poder, quer do lado da sua manutenção, contém questões que escapam à reflexão mais objectiva, mesmo daqueles que livremente a deviam fazer (e sobre a manutenção do poder pouco ou nada se escreve, concentrando - se a análise científica da actividade política, na perspectiva da conquista). Assumo também a minha quota de responsabilidade na matéria e admito nem sempre ser fácil abordar o assunto. Ainda assim, sendo eu um defensor de que os Homens se movem por interesses, sem que nisso exista nada de negativo ou ilegítimo (como é óbvio falo de interesses compatíveis com a dignidade da pessoa humana), não pode espantar a ninguém que, por exemplo, um homem de negócios (seja ele um banqueiro, um empresário de construção ou outro), queira influenciar a decisão política no sentido que mais lhe interessa. Porém se é normal tal atitude, devemos questionar se existe normalidade quando do lado dos políticos, governantes, candidatos à governação, ou representantes de linhas mais tribunícias, a decisão é tomada por submissão a esses interesses particulares, ainda que apresentados aos interlocutores como sendo de interesse geral. Neste "pormenor" está toda a diferença entre um Político que verdadeiramente actua em nome do interesse colectivo, logo do Estado, e um político que cedendo à pressão de um ou outro grupo empurra o País numa direcção estreita. O primeiro pode perder, mas é livre; o segundo pode ganhar, mas será sempre refém. E este é O grande problema político dos tempos correntes. Quem manda não vai a votos e vence quase sempre. Porquê? Apenas pelo facto de ter muitos políticos no bolso, predispostos a servir quem paga.

Se fizéssemos uma análise mais atenta, logo mais cuidada, de posições públicas tomadas na última semana e meia por alguns ilustres representantes da Finança portuguesa, perceberíamos o que levou o nosso primeiro-ministro a desdizer o que tinha dito com voz grossa no dia anterior. Dir-se-á, bom neste caso ainda bem já que isso o fez recuar nalgumas obras públicas. Quanto ao resultado imediato neste domínio não o duvido, restará saber se as medidas entretanto anunciadas foram tomadas a pensar na Nação ou numa parte dela. Na parte que ao longo do tempo decide, sem nunca ir a votos.

Quem manda? Os eleitores muito menos do que julgam!

5 comentários:

  1. Marcelo(de Cascais) disse...

    O único que pagou as campanhas do seu bolso deve ter sido o autor.nunca teve apoios dos homens da "massa" pois não?são só os outros.malvados e dependentes de quem lhes paga.é só o primeiro ministro que fala pela boca de quem lhe paga as campanhas.francamente,haja vergonha...um espelhinho não ficava nada mal.

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  2. Enfim. Há quem não queira compreender a diferença entre o financiamento politico legal e ilegal.
    Bem, e para ser financiado é sempre bom que seja por quem publicamente assuma que tem "massa".
    Mau, mau é quando quem financia, ostenta sinais exteriores de riqueza, mas não tem rendimentos condizentes. Financiamento ilegal, crime, branqueamento, enfim,tudo pormenores para o Marcelo de Cascais.

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  3. Julgo que tem razão, mas quero crêr que o problema é ainda mais profundo. O manto de silêncio que impera por parte de uma comunicação social que não está preparada torna a situação ainda mais grave.
    Onde está o jornalismo sério de investigação? Não falo do Sol e da publicação de umas escutas. Será que é necessário escutas para dizer aquilo que todos vemos?

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  4. Como é que a comunicação social há-de falar destas coisas se ao mínimo problema com o poder vê este cortar a publicidade?

    Quanto à pergunta sobre quem manda, não tenho há muitos anos qualquer dúvida: BES. E muitos políticos andam é a mando deles!

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  5. As teorias da conspiração são, normalmente, tão interessantes, como fantásticas.
    Bildenberg, os governos mundiais, Pinto Balsemão, BES. Contudo,o ser humano é essencialmente livre e a liberdade individual por muito que esteja condicionada é determinante. Os exemplos históricos falam por si. Grandes grupos - que não tiveram que se enconder porque conquuistaram o aparelho de estado - como na Ex -URSS - e que impuseram não só os seus interesses como os erigiram no único interesse atendivel e que com base nele impuseram planos e economias planificadas conseguiram vencer? Não.Porque?
    Por causa dos Silvas e dos pereiras do mundo. Por causa de gente anónima que não desistiu.
    O silêncio da comunicação social não necessita de ser imposto. Basta a falta de preparação e de qualidade dos nossos jornalistas: não investigam, copiam.
    Honestamente, enquanto continuarmos a culpar poderes escondidos como o BES dificilmente teremos coragem de por nomes nos responsáveis.
    Porque não começar com simpliocidade e pelo principio. Quem são as pessoas que nos governam? Em que acreditam? Qual é o projecto que têm para Portugal? O que pretendem fazer por nós?
    Julgo que, para já, seria suficiente e que as respostas nos iriam verdadeiramente surpreender.

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