O PASSADO 1
As análises são cada vez mais repetitivas, os comentários sempre consensuais e as palavras tornam-se irredutivelmente ocas. Há crise, todos agora o dizem, mas permanece ausente a resposta a uma simples pergunta: como chegámos aqui? Ninguém quer falar do passado e há mesmo quem diga ser isso indiferente perante a urgente necessidade de ultrapassarmos as dificuldades do presente. A verdade é outra. Todos, ou quase todos, somos cúmplices dos erros e fomos coniventes, activos ou passivos, do desastre a que assistimos. E é tal a dimensão da nossa culpa (ou porque não quisemos saber; ou porque não quisemos ouvir; ou porque não quisemos votar; ou porque simplesmente votámos onde era mais fácil), que nos escondemos dentro de nós próprios para não ver, para não ouvir, para não assumir, para não responder.
A "elite" das conferências, dos simpósios, dos seminários, continua aí. Intacta, sorridente, pronta a dizer o caminho a seguir, mas incapaz de afirmar como todas as suas análises estavam erradas e todas as suas previsões falharam. Ela era constituída pelos "inteligentes" do regime, pelos "gurus" do sistema, pelos "catedráticos" do sucesso, do optimismo, do progresso e do desenvolvimento. Ai de quem se atravessasse na sua frente, ai de quem ousassse questionar ou criticar a sua receita.
E quantos de nós, mesmo que agora nos apressemos a criticar, participamos com entusiasmo nessas reuniões, aplaudimos com vigor as palavras nelas proferidas e nos acotovelamos para sermos vistos na primeira fila e pertencer ao "clube"? Quantos de nós? Quantos de nós evitámos a relação, o convívio e a conversa, com os críticos da marcha, com os contestários do modelo, com os defensores da alternativa? Quantos de nós? Muitos, sem dúvida muitos, mesmo que agora finjamos o contrário.
Covardemente ignoramos a nossa responsabilidade e covardemente não enfrentamos os erros que nós próprios cometemos. Com tal atitude e comportamento não resolvemos nada e apenas provamos ser fracos.
(continua)
Tem toda a razão. Mesmo.
ResponderEliminarContudo não me parece que no passado possamos encontrar soluções, quando muito encontraremos razões.
Todavia, e como bem têm feito notar neste blogue, o passado de Portugal, economicamente falando nunca foi auspicioso. Nem no tempo das especiarias, nem no tempo do ouro do Brasil.
Grave, grave, e sem recuarmos tanto no tempo é sermos confrontados com aquilo que Salazar dizia quando o questionavam porque não abandonava as províncias. Salazar respondia, invariavelmente, que não podia, pois Portugal não sobreviveria 50 anos, economicamente falando, sem as suas províncias. E isto sim é grave. É esta uma afirmação que merece credibilidade, independentemente de Salazar não ser um democrata?
O problema não é só a ruína em que estamos. Com essa sabemos viver. O que me preocupa verdadeiramente é a viabilidade deste projecto a que chamamos Portugal. A aí, sim, Dr. Manuel Monteiro, pode acreditar que só com armas se resolverá a questão.
Cara Maria Pia
ResponderEliminarTem razão, no que diz. Eu não busco no passado soluções, apesar de noutros passados nacionais elas poderem existir (veja o que de positivo fez o Rei D. Dinis, por exemplo), mas tenho de ir ao passado, mesmo o mais recente para encontrar causas. Aliás poucos, ou nenhuns, falam disso por uma simples razão: os causadores da desgraça estão aí, vivos e tranquilos, alguns preparando-se para mais mandatos de representação política.
Falar neste caso do passado significa identificar, com clareza, o que de errado se fez e que, contra o bom senso, se mantém inalterável. Desde logo o nosso Sistema Político e nele o sistema de governo, que existe para perpetuar a nomenclatura.
É minha intenção continuar a falar do passado e do presente, antes de lhe dizer o que penso sobre o Futuro.
Isto se os soldados e os marinheiros receberem o subsidio de férias...
Cara Maria Pia,
ResponderEliminarConcordo com quase tudo o que disse, contudo essa sua referência a que a ruína económica de Portugal seria por causa da independência das colónias parece-me ser muito falaciosa.
Se reparar, nenhum país desenvolvido da atualidade (EUA, Canadá, Europa Ocidental desenvolvida, Japão, etc...) possui nos dias de hoje colónias de onde explorar recursos e oprimir os povos nativos. Essa fase há muito que passou à História e já não vai voltar.
E ainda se reparar, esses países que referi são bem mais ricos e desenvolvidos do que Portugal, mesmo nesta altura em que a crise é mundial.
Em todo o caso, de certo que Portugal ainda pode futuro favorável e próspero, afinal, as crises não duram para sempre (embora nós os portugueses, já digamos que estamos em crise desde tempos imemoriais!). É necessário fazer as apostas certas e procurar os melhores opções de desenvolvimento para que, um dia, possamos ser um verdadeiro país desenvolvido.
Contudo, o que atualmente é certo e mais que certo, é que os tempos actuais estão tudo menos fáceis e que a crise não dá sinais de abrandar, pelo menos para o cidadão comum (não falo dos 1001 gestores e presidentes de empresas públicas, pois a eles, a crise nunca lhes toca).