sábado, 29 de maio de 2010

A MALDIÇÃO DO MAL MENOR

Uma das grandes conquistas do 25 de Abril foi impedir a direita de o ser. De tal forma que o espaço partidário autorizado tinha de terminar ao "centro". Ser de direita era não só proibido, como sinal de pertença, simpatia ou apoio ao regime deposto. Impedida de se afirmar, perseguida até pela força, a direita foi-se distribuindo pelo CDS, pelo PSD e mesmo pelo PS. Distribuída em termos de filiação e principalmente nos votos, o eleitorado de direita cedo foi "educado" a votar pelo mal menor, a rejeitar em vez de escolher, a aceitar em lugar de agir.

Inteligente, perspicaz e conhecedora das fraquezas de muitos, a esquerda percebeu que podia "comprar" vários rostos da suposta direita, calando-a com dinheiro, com negócios e até com algum suposto estatuto social. E, ao contrário da Espanha, a direita portuguesa foi canibalizada, enganada por vários dos seus formais e públicos "líderes", remetida a um silêncio ensurdecedor e condenada a votar contra, mais do que votar a favor das suas ideias, opções e princípios.

A trama, se preferirmos a maldição, foi tão bem montada que ainda hoje, em 2010, vemos distintos "representantes" da área política a que se chama direita, sempre disponíveis a estarem na primeira linha do "combate", a depressa recuarem e aconselharem "bom senso" quando o combate verdadeiro pode fazer perigar a manutenção de um sistema de meias tintas, povoado por sujeitos que são tudo e o seu contrário em função das circunstâncias e dos seus interesses do momento.

O sistema não quer que exista Direita e por isso alimenta esta "direita" prisioneira das suas armadilhas, tributária das suas múltiplas benesses, condescendente com as suas tácticas e infindáveis estratégias.

A esquerda conhece bem estes corajosos de "direita", que gritam no conforto dos seus salões, sentados na comodidade de lugares e reformas atribuídas pelo sistema que os alimenta, veste e paga. E por isso vive numa tranquilidade não vista em praticamente nenhum outro país europeu. E por isso sabe que esta falsa dicotomia "esquerda"/"direita" à portuguesa tem tanto de irreal e enganoso, quanto de útil e vantajoso.

Ser de "direita" em Portugal é estar condenado a votar contra "a esquerda", mesmo que esse voto valha menos do que zero, em matéria de valores, de novos programas, de novos horizontes.

Tenho dúvidas que a situação possa mudar no imediato, mas tenho a certeza de que ela mudaria, ou começaria a mudar, se surgisse um candidato de direita nas próximas eleições presidenciais. Hoje fiz um desafio a alguém que podia concretizar essa legítima ambição. E mais direi nos próximos dias!

8 comentários:

  1. Portugal, o país do mal menor.
    Triste sina a nossa.
    O país em que o Presidente não veta,mas promulga em nome da defesa do mal menor.
    O país em que o primeiro ministro não governa,devido ás graves suspeições que pairam sobre a sua vida. Mas em que se mantém no cargo, em nome da defesa do mal menor.
    Quantas e quantas vezes não dou por mim a pensar se já não existem portugueses que decidam só de acordo com princípios?
    Construir pontes e TGVS é bom? Sim, não, não sei... Mas, também, não interessa não temos dinheiro. Comprar submarinos é importante? Que interessa se não temos dinheiro.
    Ninguém tem sonhos e projectos para Portugal a 50 anos?
    O que temos que fazer para termos futuro ? E que futuro queremos para nós?
    Hoje enquanto consultava alguns sites sobre Paris percebi que o sinal indicativo da lingua portuguesa é a bandeira brasileira.
    A nossa pátria já não é a lingua portuguesa?
    Claro que é melhor fazermos de conta. Sob pena de os franceses e brasileiros poderem não gostar. Mais uma vez, quietos e acomodados, em nome da defesa do mal menor.
    Já agora, Dr. Manuel Monteiro, porque não se candidata V. Exa. á presidência da República?

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  2. Dr. Manuel Monteiro
    Mas quem é o sistema? Quem delineou esta estratégia?
    Tem escrito que o Dr. Passos Coelho é um bom presidente para o PSD. Passos Coelho não é um politico comprometido? Poderá ser um lider para a direita?

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  3. Creio ter sido, segundo a literatura específica, a corrente bernsteiniana do socialismo a primeira a ser demarcada dos cânones de esquerda, tão gravemente ferida se viu com aquela demarcação de ideias, a que alguns chamaram "a terceira via".

    Ora, aquilo a que o meu amigo MM tão sintética mas assertivamente se refere é, também no caso deste "Estado a que chegamos", a de um "revisionismo" de direita, ou, como diz o nosso amigo comum JAM, este estado em que temos "a direita é a que convém à esquerda e a esquerda que convém à direita".

    Só que, no fervor das têmperas dos que sentiam, verdadeiramente, o estado de necessidade da revolução, o pior estigma que alguém se podia ver atribuído era, nesse tempo, o de "revisa", ou revisionista, precisamente porque, para se acomodarem dentro da esquerda, abriam "portas" à direita.

    Por isso, MM, não tenhas medo de lhes chamar o que realmente são:

    REVISIONISTAS.

    TRAIDORES.

    Prof. JRC

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  4. Cara Marta

    1. Vi ontem, em repetição, o programa "Plano Inclinado" da SIC - Notícias e escutei com atenção e interesse as palavras do Prof. Ernani Lopes. Com clareza cristalina lembrou o que muitos esqueceram: "tudo o que fazemos e dizemos tem um referencial: PORTUGAL". No fundo vai ao encontro do que é o seu comentário e com o qual me identifico. A ausência da referência PORTUGAL, se quiser os portugueses, demonstra a imensa pequenez do que nos rodeia. É legítimo termos ambições? Claro que sim! É normal termos interesses e em seu nome querermos conquistar uma determinada posição? Claro que sim! Mas a legitimidade quer das ambições, quer dos interesses, não pode ser na política um fim em si próprio ou, se preferir, o único fim. E este é o grande drama nacional. Para a maioria dos representantes, a Pátria deixou de ser um objectivo e a lógica do "salve-se quem puder" passou a ser um imperativo. E até quando o toleraremos? Francamente, por agora, não sei responder-lhe.

    2. Quanto à pergunta que me faz sobre as presidenciais, a minha resposta é simples: só por desmesurada cortesia é que a hipótese pode ser levantada.

    Creia-me com consideração
    Manuel Monteiro


    Caro Nuno Ribeiro

    Já escrevi, e de novo o repito, que não sou, nem estou em trânsito para o PSD, mas também já referi que tenho uma positiva expectativa em relação ao Dr. Pedro Passos Coelho. Penso, do que sei, não ser um político comprometido com o sistema e creio que tem a serenidade, a inteligência, a coragem, para com ele romper. Pergunta-me se ele poderá ser um líder para a direita e a minha resposta é não. O Dr. Passos Coelho não é um homem de direita, nunca o quis ser e tem assumido com frontalidade posições em matéria de valores com as quais não me identifico. Poderá ser porém, um líder de uma ampla plataforma para um futuro governo nacional, na qual a direita esteja com autenticidade e sem complexos. Poderá ser. Veremos. Uma coisa é positiva na sua postura: ao contrário de muitos supostos "líderes" da direita ele diz o que pensa sem subterfúgios. Nomeadamente em questões como a Família, os casamentos e as adopções. é preferível alguém que não esconde opiniões, do que pessoas com dupla personalidade política.

    Creia - me com consideração
    Manuel Monteiro


    Caro Prof. Coelho

    Muito obrigado pelo seu comentário.
    Só a sua bondade pode dar a quem nos governa e representa o rótulo de "revisionistas". Se ao menos o fossem...

    Um abraço

    Manuel Monteiro

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  5. Este discurso lamechas nem parece seu, Manuel Monteiro. Se bem me recordo e também lho recordarão certamente um ou dois dos seus colegas de blogue que eu conheço e sei bem informados destes detalhes, depois do frenesim de 1975 e 1976, a direita apresentou-se assumidamente a eleições legislativas em 1979 com o PDC – Partido da Democracia Cristã: obteve 72.500 votos (1,2%).

    Em 1980, apresentou-se uma ampla coligação de partidos de direita designada PDC/MIRN-PDP/FN; o número de organizações multiplicou-se por três, mas o número de votos reduziu para menos de um terço: 23.800 (0,4%).

    Seguidamente, o PDC novamente isolado teve 39.200 votos em 1983, 41.200 em 1985 e 31.700 em 1987. A prova que o tal sistema de que se queixa ainda era permissivo à ascensão de partidos marginais aconteceu em 1991, quando um senhor (Manuel Sérgio) veio contar umas balelas para os tempos de antena e consegue que a sua organização arrecade 96.100 votos (1,7%), sendo mesmo eleito deputado! Dessa vez, até o Louçã ainda na sua verdadeira encarnação trotskista ia entrando…

    Não culpe o sistema da ineficácia da mensagem e da incapacidade dos mensageiros.

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  6. Caro A. Teixeira

    Muito obrigado pelo seu comentário. Permita-me três simples notas:

    1. Partilhei as vitórias obtidas eleitoralmente, mas assumo as derrotas que tive. Não tenho por hábito encontrar justificações para o insucesso, quando nele tive a principal responsabilidade. Aderi à actividade política com 13 anos de idade. No Movimento Associativo estudantil, na Juventude Centrista e posteriormente no PP, o prato das vitórias políticas pesou sempre mais na minha balança, muito mais; no PND, partido de que fui co - fundador e um dos principais impulsionadores, aconteceu o contrário. E de modo algum pretendo imputar a terceiros, responsabilidades que a mim, só a mim, cabem. É essa postura que me permite, em várias circunstâncias, lamentar que os responsáveis pela situação degradante do País não assumam erros cometidos.

    2. Compreendo o que diz. São factos, mas são factos que, à direita, não tiveram consequência. E não creio, se fizermos uma análise serena e objectiva, que as causas para o insucesso dos partidos que mencionou tenha estado apenas nas pessoas que dirigiam esses mesmos partidos. Falou do PDC e recordar-se-á, estou certo, como foi proibido de concorrer no primeiro acto eleitoral.

    3. A razão dos seus factos, não retira (assim o penso), razão à minha análise. O sistema não permite que a direita se afirme como tal. É só culpa sua? É óbvio que não, mas esse é já assunto para outro fórum.

    Creia-me com consideração

    MM

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  7. Sr. Dr. Manuel Monteiro, respeito a sua opinião sobre a Direita e Esquerda em Portugal, mas pelo que tenho observado após o 25 de Abril 1974, é que, nestas últimas décadas a Direita tem estado em alta, atravéz do sistema partidário apoiado pelos antigos grupos económicos e actuais,e que tem sustentado todo este poderio partidário de todos os partidos que tem estado nos governos ao longo de todos estes anos.Esses velhos senhores destes grupos económicos de direita que viviam á sombra de Salazar e que se voltaram a instalar após o derrube do Gonçalvismo, estão a dominar este Pais, juntamente com alguns novos oportunistas que se aproveitaram de negociatas bolsistas que fizeram deles novos capitalistas do nosso Reino e que dominam todos os sectores da nossa ecónomia. Por isto falar de Direita ou Esquerda acho que hoje já não faz sentido, porque estes senhores que se gladiam nas bolsas pelo poder destas empresas dominadoras, tanto lhes faz que esteja no Governo um PSD- PPC ou um PS de Socialismo moderno?! ou ainda um CDS -Portas que quer estar sempre presente nuns ou noutros.O sentido desta democracia já não é o de Direita, Esquerda, ou Centro, mas sim, de um sistema que já ruíu, por este Mundo Globalizado, onde vêmos os Povos dos Países chamados mais civilizados a passar por grande sofrimento.E os Senhores desses grandes grupos económicos cada vez mais nos top's ten's dos seus Países e no Mundo.

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  8. Caro Fernando Sá

    Com atraso, do qual peço desculpa, aqui vai o meu comentário.

    Compreendo tudo o que diz, mas será que podemos culpar os capitalistas pela ausência de poder político e de responsabilidade dos governantes? O que quer um capitalista? Ganhar dinheiro. É a sua missão. Foi no passado, é no presente e será no futuro. Não há nisso nada de estranho. O problema não está nos capitalistas, mas nos políticos fracos, covardes, corrompidos, servidores do interesse particular e não do interesse geral. E desresponsabilizá-los serve apenas para nos enganarmos a nós próprios e ilibar quem tem as verdadeiras culpas pela situação que vivemos.

    Creia - me com consideração

    Manuel Monteiro

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