domingo, 6 de junho de 2010

UE e INTERESSE NACIONAL

Querer estar na União Económica e Monetária, sem aceitar as suas consequências é no mínimo bizarro. E a bizarria é ainda maior quando provém dos fanáticos defensores do modelo.

Vem isto a propósito do seguinte:

1. É possível estar na UEM e impedir a compra das nossas empresas, sejam elas quais forem, por parte de empresas estrangeiras, nomeadamente europeias?

2. Como compatiblizar a presença na UEM, com o chamado interesse estratégico nacional?

A resposta à primeira pergunta é simples, muito simples até: não é possível! Podem agora alguns derramar lágrimas de crocodilo, fingir ignorância (têm desculpa os ignorantes reais que apesar dos aplausos a tudo quanto lhes apresentam têm conhecimentos do tamanho do caracol), protestar contra a possibilidade de perdermos esta ou aquela empresa, mas os Tratados europeus que entusiasticamente apoiaram não deixam qualquer margem para dúvidas. Cumprindo as regras tudo pode ser vendido, tudo pode ser comprado.

Já quanto à segunda pergunta há mais a dizer.

A) É através de golden shares, que salvaguardamos o interesse económico nacional e podemos impedir, por exemplo, a compra da PT? É óbvio que não! As golden shares são "ilegais" à luz dos Tratados ( e não fui eu que os apoiei ou votei favoravelmente). Elas servem apenas não para defender o País, mas para salvaguardar os interesses do poder político. Não será necessário dizer muito mais sobre o assunto, atentos ao que se tem passado ao longo dos anos.

B) É através de dois ou três grupos económicos nacionais fortes que detêm a esmagadora maioria das empresas cotadas em bolsa? Também é óbvio que não. Um capitalista puro, e contam-se pelos dedos das mãos os que funcionam ao contrário, tem acima de tudo uma preocupação: ganhar dinheiro e ter lucro, sem que haja nisso nenhuma ilegitimidade. Entre a Pátria e o negócio as preferências vão para este último. É assim, foi assim e será assim.

Qual a solução então? Disseminar o capital e permitir que uma percentagem muito significativa das acções estejam distribuídas pelo público em geral. Fomentar aquilo a que muitos grandes estadistas chamaram capitalismo popular, permitindo o acesso das pequenas e médias poupanças às grandes empresas. É isto irreal ou impossível? Não é, mas choca com dois grandes opositores de peso: os políticos e os grandes capitalistas. Uns e outros, aliados estreitos em Portugal, não querem muitos accionistas, nem um Conselho de Administração forte, independente, verdadeiramente definidor das estratégias a seguir. Não é por acaso que aconteceu o que aconteceu no BCP. Estes dois grupos não tinham qualquer controlo no Banco e a sua administração precisava ser abatida custasse o que custasse. Desconheço se os seus membros cometeram os erros de que os acusam, mas possuo uma imensa curiosidade (por certo nunca satisfeita) quanto ao que se passou e passa noutros bancos e pergunto-me se por lá tudo correrá de acordo com os cânones.

Defender o interesse nacional é algo que tem de estar sempre na nossa preocupação, porém ver os vendilhões do templo preocupados com a possível venda da PT e dizerem que a sua preocupação se chama Portugal daria para rir, se o momento fosse propício.

Se houvesse coragem, que não há, e se houvesse total independência nos jornais, que também não há, os portugueses ficariam a saber o que se passou e continua a passar em muitos negócios, grandes negócios, seja na Banca, seja noutros sectores de actividade económica.

Mas adiante. O que seria por agora relevante é que discutíssemos a sério o que é isso do interesse nacional e como se defende ele nesta União Europeia. O mais é conversa para entreter os distraídos ou os tontos de sempre: os que aplaudem em qualquer circunstância!

3 comentários:

  1. Sr.Dr.Manuel Monteiro,concordo consigo sobre esta UE.

    Também entende o que eu quiz dizer no último comentário que eu fiz sobre este capitalismo instalado neste mundo globalizado, que caminha cada vez mais para o monopólio de todos os sectores que geram dinheiro,não se preocupando com os valores e equilibrio das sociedades."Nem tanto à terra nem tanto ao mar".

    Sabe-se que muitos dos eleitos "políticos", que estão em Bruxelas passeiam nos corredores ostentando na lapela os "crachás" das maiores empresas mundiais, ajudando-os nos negócios.Uma UE assim não serve os interesses nacionais, mas sim os de alguns.

    Eu também sei que dinheiro faz dinheiro, mas aqueles que tiverem mais facilidade em o obter,levam sempre mais vantagem, sobre aqueles que se esforçam e também são intelegentes,mas não não conseguem entrar nesse mundo que cada vez se fecha mais.

    Grande abraço
    F.Sá

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  2. Desculpem-me no meu comentário anterior utilizei a palavra "intelegentes" quando deveria escrever "inteligentes".

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  3. Eu li a entrevista do Eng. Jardim Gonçalves ao Expresso.
    As acusações que faz são gravíssimas. Contudo,as que ficam por fazer ainda se advinham mais catastróficas. Afinal, o que aconteceu no BCP? Afinal é o Eng Jardim Gonçalves uma vitima ou um autor de actos ilícitos e altamente lesivos do Estado?
    É evidente que processos tão obscuros só podem dar guarida a interesses igualmente obscuros.
    Assim, não há quem resista. Muito menos, a sociedade civil que privada de qualquer informação válida não saberá o que pensar. Mas, e em nome de quê, é que não se diz a verdade? Quem teme o julgamento efectuado por uma sociedade devidamente esclarecida?
    E não venham argumentar com "provas", do género: "eu sei, mas não posso dizer porque não tenho provas." Era só o que faltava ter que ter provas para se dizer a verdade. Prova é um espaço dogmaticamente ocupado, que resulta da relação entre o juiz e o processo penal. Logo, que provas querem ter simples cidadãos? E por isso não dizem a verdade? Era o que faltava. Eu parto do principio que os cidadãos do meus país falam verdade e actuam de boa fé. Logo nada têm que provar. Quanto ao mais, se alguém se sentir ofendido porque alguém mentiu, então, e aí sim,
    que recorra aos tribunais.

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