quarta-feira, 28 de julho de 2010

A Turquia e a União Europeia

Mereceu diversos comentários, das mais diversas proveniências, o apelo entusiasmado feito por David Cameron, novo Primeiro-Ministro britânico, que em Ancara apoiou fortemente a adesão da Turquia à União Europeia. Confesso não perceber o espanto e a surpresa que tal apoio possa ter motivado. Cameron limitou-se a verbalizar o óbvio! Como bom britânico que se preza, defendeu a adesão da Turquia à UE porque sabe que essa adesão impedirá o aprofundamento político da UE, que ficará reduzida a um mero espaço económico de livre troca de produtos, acompanhado eventualmente de liberdade de circulação de pessoas à qual o próprio Reino Unido ainda nem aderiu. Esse tem sido, historicamente, o grande sonho britânico! Limitar a UE a um espaço económico. Daí que não surpreenda - embora se lamente! - esta postura de David Cameron. Quem ambicionar uma UE dotada de personalidade jurídica e política, institucionalmente forte, interveniente num mundo multipolar cada vez mais dominado pelos grandes espaços, não pode subscrever teses que inviabilizem esse desiderato. Ampliar a UE à Turquia significa paralizá-la politica e institucionalmente. Significa, para recorrermos ao jargão comunitário, continuar a apostar no gigante económico que não passa de um anão político. Além de chamar à vizinhança países pouco recomendáveis que estão paredes-meias com a Turquia e passariam a estar na fronteira externa da UE, na nossa fronteira exterior: o Curdistão, o Iraque, a Síria.... deixariam de ser realidades que nos são distantes para passarem a vizinhos que nos seriam próximos. Por mim, dispenso de bom grado tais vizinhanças. E se os vizinhos geográficos nos acontecem e não os podemos escolher, os vizinhos políticos dependem em muito das nossas escolhas. Eu percebo que os EUA queiram que a Turquia adira à UE; querem isso e quererão tudo mais que possa evitar a União Europeia de ser um agente político interveniente e de relevo na cena internacional. A essa luz, quantos mais Estados formos e maior for a dificuldade da UE estruturar uma política exterior consistente e coerente, mais lucrarão os EUA; percebo, também, que nesse quadro de multilateralidade, o Reino Unido aspire a ter o estatuto de parceiro privilegiado de diálogo dos EUA na Europa e pense poder dispensar o enquadramento comunitário. Tenho, porém, maior dificuldade em perceber que Estados europeus de pequena e média dimensão sufraguem idêntica posição. Individualmente estarão condenados à absoluta irrelevância e se aspiram a desempenhar um papel neste mundo dos grandes espaços apenas o alcançarão no quadro de entidades regionais de integração, como é hoje a União Europeia. Reconheço, todavia, que o desejo turco de aderir à UE coloca um problema político a que urge saber dar resposta. Ora, para evitar deixar a Turquia «à solta» e à mercê dos fundamentalismos muçulmanos, tem toda a pertinência a tese de Adriano Moreira que prefere uma parceria reforçada a uma adesão complicada. Perfilho a tese do Mestre - sem reservas.

2 comentários:

  1. Concordo inteiramente. Fiz uma apreciação da peça mas desapareceu....eu e estas coisas.... mas queria reforçar a ideia do nosso João Pedro. A seu tempo insistiremos nesta hipocrisia britânica que claramente p~e em causa o serviço diplomático europeu. e, já agora, não me identifico com esses movimentos contra o acordo ortográfico. pois..... os mesmos que dizem que o português é uma das linguas mais faladas do mundo..... gostava de os ver a ter uma conversa com o Luis Vaz... Aliás, os Lusiadas, caso não saibam, não têm nada a ver com a grafia original! ....

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  2. Grato ao AT pela sua concordância - e solidariedade, que muito prezo, para não me sentir isolado nesta prestigiada casa de tantos amigos! :::)))
    JPD

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