terça-feira, 20 de julho de 2010

O tempo e o modo

Na actividade política, altamente mediatizada como sucede nos nossos dias, o tempo é um bem cada vez mais precioso e a necessitar de uma gestão cada vez mais criteriosa. Cada vez mais o tempo condiciona o modo como se faz política. Não sei se Pedro Passos Coelho já se deu conta dessa realidade incontornável dos nossos dias. O que sei é que ao lançar para a discussão pública - nesta altura de profunda crise económica, financeira, social e (quase) política - a questão não urgente nem prioritária da revisão constitucional, e ao fazê-lo da forma assaz controvertida e polémica como o fez, Passos Coelho prestou um inestimável favor a José Sócrates. Em vez de se concentrar no essencial da governação e na criação de políticas públicas alternativas, Passos Coelho veio introduzir uma questão (decerto importante) lateral no debate político, veio permitir que José Sócrates cavalgue até à exaustão essa onda de constitucionalismo pondo os órgãos do seu Partido a falar, Secretários de Estado e Ministros a pronunciarem-se, enquanto respira das agruras da governação. Para Sócrates é melhor polemizar com Passos Coelho sobre poderes do Presidente da República, funções do Estado, gratuitidade do sistema nacional de saúde - do que discutir e ser confrontado sobre crescimento económico, desemprego, apoio às pequenas e médias empresas, salários em atraso, empresas a encerrar, divergência da UE, desrespeito pelo direito comunitário.... Falhando o timing das suas propostas, Passos Coelho verá Sócrates empolar a iniciativa e agradecer a ajuda.

1 comentário:

  1. Se calhar a intenção até é essa.... Um balão de oxigénio a um governo moribundo para evitar a sua queda numa altura que não convinha nada ao PSD!

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