Este é um apotegma bíblico. Aparece num contexto em que Jesus, depois de um prolongado jejum, se vê confrontado com três provocações: orgia, poder e sobranceria. Ora, estas três provocações que, em linguagem popular, chamaríamos de tentações, poderiam ter uma série de leituras, se tivermos como base hermenêutica o elemento sociopolítico. A estes três engulhos ajuntaríamos: despesismo, autoritarismo e elitismo.
Esta máxima é incompleta se não se lhe acrescentar (…) mas de toda a palavra que sai da boca do Senhor. Podemos, evidentemente, eliminar toda a referência religiosa, ficando apenas : mas de toda a Palavra.
Palavra, dabar (hebraico), princípio e força de criar; Palavra, lógos, (grego) a base de qualquer discurso válido (estruturação e conteúdo). Ora, todo o termo com lógos opõe-se aos derivados do ismo. Enquanto em lógos confrontamo-nos com o pensamento positivo e com a preocupação de encontrar os fundamentos de toda e qualquer afirmação, nos ismos, porém, temos os mais variados desvarios que grassam pela terra dos homens (racismo, fascismo, totalitarismo, terrorismos etc).
O mundo e, sobretudo, este homem, numa sociedade concreta, longe das abstracções e dos nominalismos estéreis, teve sempre à sua frente a tentação de fugir à coerência do lógos, que exige a dialéctica, para pautar o seu modus pensandi e actuandi em derivados do ismo. É mais fácil. É mais cómodo. Não é preciso cogitar. Não é necessário formular e reformular estratégias de diálogo com o OUTRO, com quem deve ter uma relação (Emmanuel Mounier e Gabriel Marcel). Aqui surge a preocupação não só em decapitar o nosso aforismo, como em desvirtuá-lo: não só do pão vive o homem… (para) só do pão vive o homem. É esta lógica sem lógica que capitaneia o mundo actual e perpassa em tudo onde o homem põe a sua mão. O interesse, por isso, torna-se o elemento fundante de qualquer actividade humano.
As consequências são funestas. Tudo é relativizado: o Homem e as experiências comprovadas de praxis política e organização social que dignificaram o Homem. Assim, a democracia só tem valor se a economia vai de vento em popa; que ela não deve ser importada; não enche estômagos, que cada povo pode ter a sua e as eleições, mesmo à força do baton e da tricheria, são sempre, para os observadores do mundo branco, livres e justas.
Ao retirar-se a ética da política, elimina-se a sua dimensão antropológica para, simplesmente, se tornar em arte da diplomacite, das negociatas e dos barões. Isto explica a falta de diferença entre as políticas dos governos ocidentais seja qual for a ideologia que professem e quão obsoleto é a linguagem direita-esquerda. É, neste ambiente, onde só de pão vive o homem, que as ditaduras, que movem um fiore di soldi, são camisola-amarela e têm pódio nas capitais do homem-livre. Podem justificar, despudoradamente, por que prendem arbitrariamente, violem, matem, esfolem, fazem leis para blindarem a sua prole, amigalhaços, a si próprios e açambarcam o que é de todos, porque, doutro lado, estão funcionários da política com medo de perder mercados e insensíveis ao pranto dos oprimidos. Neste cenário tétrico, onde ditadores altivos têm o abraço afectuoso de eleitos subservientes e cabisbaixos, urge reintroduzir Deus, às vezes, silencioso demais, para humanizar estes deuses que se divertem em destruir o Homem.
Padre CONGO, Cabinda, 7 de Março de 2010
E com o "só de pão vive o homem" vem o medo. O medo puro. O medo de perder o pão ou de não o ter. E com medo controem-se sociedades não de cidadãos, mas de seres humanos apoquentados e servis. Como permanece viva a mensagem de João Paulo II, Não Tenhais Medo, Abri os Vossos Corações a Jesus.
ResponderEliminarMuito obrigado Padre Congo, muito obrigado por nos relembrar que com medo seremos sempre escravos, servos, senão dos outros, de nós mesmos. Muito obrigado por nos relembrar que só com amor nos tornamos verdadeiramente livres.
Muito obrigado por nos trazer Deus.
Como disse um dia: "De joelhos diante Deus, de pé pernate os homens".
Bem Haja.
Numa altura em que em Portugal se colocam os interesse económicos de meia-dúzia à frente da defesa dos Direitos Humanos é bom ver que há quem resista e se revolte e defenda Valores, nomeadamente apoiando a justa luta do povo cabinda!
ResponderEliminarJoão Antunes
A liberdade não se proclama, exerce - se. Pena é que poucos tenham o dom de a exercer, esquecendo que sem o seu pleno exercício estão em causa os valores da fraternidade, da solidariedade e do respeito pelo próximo. O Padre Congo é um homem de Fé e em nome da Fé, que aqui nos dá este testemunho. Bem haja!
ResponderEliminarPois, desde que o exercicio da liberdade não incomóde. Pena é que poucos tenham o dom de respeitar o seu exercicio, mesmo quando andam para aí armados nos seus maiores defensores.
ResponderEliminarGostei deste comentário do Monteiro... vir falar de liberdade!Esqueceu-se da liberdade que não exerceu enquanto presidente do CDS/PP?A liberdade para o Dr.Monteiro só existe se estiver do lado de fora.
ResponderEliminarO Dr. Monteiro vir falar de liberdade?! O anónimo assume a dúvida e a ironia.... De facto, como poderia alguém no interior de um aparelho partidário exercer liberdade? Infelizmente, a ausência de quadros axiológicos no interior dos aparelhos partidários não é um apanágio do CDS de Monteiro. Senão veja-se o estado actual da politica e dos politicos portugueses.
ResponderEliminarNão terá o anónimo reparado? Não, ainda não deve ter percebido..senão porque utilizaria o interior de um aparelho partidário para avalizar eticamente condutas. Hum, mais um distraido...
De facto, Portugal tem muito de que se envergonhar no caso de Cabinda. Força, Padre força
ResponderEliminarA liberdade do Monteiro só existe se estiver do lado de fora? Não é só a do Monteiro, é a do Monteiro e a de todos os outros politicos. De todos os outros não. Minto. Daqueles que de factos são homens livres e honestos. Logo de muito poucos. E neste grupo dos muito poucos não se incluem os ex-amigos do Monteiro dos CDS e actuais lideres do mesmo. Falta-lhes a honestidade e a liberdade. E este é que é o "apotegma" politico no qual estamos condenados a viver.
ResponderEliminarA menos...a menos que surja por cá um Padre Congo.
Padre não desista. Gostaria de saber de que forma posso contribuir para esta causa.
ResponderEliminarMuito 0brigado pelo seu exemplo, padre J. Congo
É inteiramente verdade. O mais belo dos valores cede perante o poder económico. São poucos os que não se vendem.
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