domingo, 25 de abril de 2010

Artigo de Manuel Monteiro no DIÁRIO DO MINHO

Será a crise económica internacional a única responsável pela situação portuguesa? A minha resposta é não! Serão os políticos os únicos responsáveis pelo estado a que o país chegou? A minha resposta continua a ser não! Este texto pode ser considerado “anti – político”, antipático e insensível à necessidade de conquista de apoios (sempre tão importante nas disputas eleitorais), mas traduz o que penso. A eventual discordância dos leitores é algo que não me inquieta.

Durante anos gastámos o que não tínhamos e desperdiçamos onde não devíamos. Hoje muitos o dizem, mas poucos ontem o assinalaram. Eu, infelizmente ou não, tenho memória. E em nome dessa memória recordo-me dos tempos em que fui, com muita honra, presidente do Partido Popular. E recordo-me (falo dos anos 1992 – 1998) de ter defendido, contra a imensa corrente da época, mais produção nacional e menos importações, mais aposta na modernização das empresas e menos subsídios dados a quem não merecia, mais investimento na criação de cursos médios, e técnicos, e menos cursos superiores desnecessários ao mercado, mais comboios, e barcos, e menos auto-estradas, mais valorização da economia real e menos valorização nominal do escudo face ao euro. E recordo-me também de sempre ter considerado impossível de sustentar uma globalização comercial, que a prazo arrasaria a nossa indústria, a nossa agricultura e as nossas pescas. E recordo-me ainda do muito que de mim disseram e do muito que de mim escreveram: retrógrado, isolacionista, anti-europeu, nacionalista radical, defensor do Portugal orgulhosamente só, provinciano, populista, demagogo, ultrapassado. Houve até quem, na ânsia de associar o seu nome nos ataques que me eram dirigidos, não tenha hesitado em me rotular de xenófobo e de incentivar o racismo.

Hoje vejo com profunda tristeza e até incontida revolta, que muitos dos alertas então lançados tinham todo o fundamento. Hoje estamos onde estamos não apenas por força da crise internacional, mas pelo acumular de erros durante quase duas décadas. Haja coragem para fazer contas e veja-se onde foram destruídos milhares de milhões de contos. Haja coragem para dizer os nomes dos responsáveis que permitiram a construção de estádios, os mesmos que agora se pensa útil implodir, que permitiram esbanjar dinheiro sem qualquer rentabilidade em milhares de freguesias, de concelhos, de regiões. Nós convivemos com quem destruiu Portugal. Porém, pior do que esse convívio nós, ou pelo menos uma parte muito considerável de portugueses, aplaudimos, apoiamos, louvamos, quem destruiu Portugal. O pão e o circo romano fizeram sempre escola na nossa “jovem” democracia e fizeram escola porque existiam, e continuam a existir, “alunos” diligentes que permitem a sua manutenção. Há portugueses, aos milhares, para quem a voz da razão não conta. Não conta que existam autarcas e governantes corruptos, desonestos ou incompetentes; não conta que as opções dos dirigentes políticos sejam inconsequentes; não conta que façam o que não deviam fazer. E não conta porque esses mesmos milhares e milhares de portugueses continuam a dar-lhes o voto, a apoiá-los, a permitir que se governem a si próprios, mesmo que isso seja feito á custa do desgoverno da Nação. O que para esses portugueses conta é que se faça obra, que se construa, que surjam campos de futebol mesmo que não existam jovens nas aldeias ou nas vilas, que haja festa, foguetório, divertimento e bebida, muita bebida. É uma triste realidade, crua, fria, imensamente real, densamente presente. Por isso criticar só os políticos serve apenas para desculpar quem lhes dá o voto e com o seu voto permitiu e permite, que tenhamos chegado ao estado lamentável em que nos encontramos. Os dirigentes podem ser maus, mas os eleitores que escolhem esses maus dirigentes não têm desculpa nem se podem esconder atrás da cortina associando para o ar e fingindo não possuírem nenhuma responsabilidade. Quando há cidadãos que admitem votar em quem tem sobre si todas as suspeitas de corrupção, pelo facto de esse alguém fazer obra, não podemos considerar que os “maus” estão só do lado da política. Dizia Camões que “fraco Rei faz fraca a forte gente”, porém houve tempos em que o Povo porque era forte fez frente a quem mal o governava. Em Portugal e noutros países a história mostra como Reis, Chefes de Estado e governantes foram simplesmente banidos pela fraca figura que faziam. Hoje isso não acontece e tudo, ou quase tudo, é admitido. Agora isso não parece possível. Podem delapidar o erário público, mal tratar os escassos recursos gerais, gerir a favor de certos interesses individuais o que é de todos e mesmo assim há muitos portugueses que encolhem os ombros. Há até alguns que afirmam com total despudor “deixemos lá estar cá quem já roubou e já se encheu, porque se vier outro vai roubar também”. Serão poucos? Serão a minoria? Sejam quantos forem são demais. Demais para uma sociedade que quer ser adulta, que deseja ser respeitada, que ambiciona enfrentar os problemas e transformá-los em desafios. Muitos políticos estragaram o país, mas muitos portugueses deixaram que o estrago se alastrasse. Ao nosso lado, na nossa rua, nos nossos locais de trabalho temos pessoas que não honram Portugal e que pactuaram com o seu voto na situação para que nos empurraram. Fraca gente que deixa fracos, incompetentes e desonestos políticos ganharem eleições!

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