Entretidos entre o centenário da República ou as medidas de austeridade lançadas por um governo cujo principal défice não é o orçamental mas sim o da credibilidade do seu Primeiro-Ministro, poucos repararam ou recordaram que há dois dias passaram, precisamente, 20 anos sobre a data em que a República Federal da Alemanha e a República Democrática Alemã se reunificaram. Foi a 3 de Outubro de 1990, menos de um ano depois da queda do Muro de Berlim. Sob o impulso decisivo de Helmut Kohl, o chanceler da reunificação, com o auxílio determinante e precioso do Presidente da Comissão Europeia, Jacques Delors, a anuência tácita de Mikaïl Gorbatchov, o apoio político de George Bush, e apesar das reservas mais ou menos explícitas do Presidente francês François Mitterrand, do PM holandês Ruud Lubbers e do PM belga Wilfried Martens, para além das "fortes dúvidas" de Margaret Thatcher, todos receosos do fantasma de uma Alemanha reunificada, a reunificação alemã foi o mais importante momento político da Europa do pós-guerra, colocando um ponto final na organização europeia saída do conflito mundial. E, simultaneamente, foi o ponto de partida para o reencontro da Europa geográfica com a Europa política, estruturada fundamentalmente em torno da União Europeia, naquele que foi considerado como o alargamento sem qualquer adesão da UE. O continente dividido, com duas Europas, duas Alemanhas, duas cidades de Berlim, duas organizações político-militares e duas organizações político-económicas, encetou o caminho da sua unificação e do seu reencontro consigo mesmo. Tudo isto em simultâneo com o desafio de construção da união política e da união económica e monetária. Parece que foi há uma eternidade – mas foi, apenas, há 20 anos. E assumiu uma relevância e uma dimensão política de tal forma transcendental que só as gerações vindouras a avaliarão na sua plenitude e em toda a sua extensão. A nós, que tivemos a felicidade de viver todos estes acontecimentos (bem como a subsequente queda do império soviético com a implosão da ex-URSS), falta-nos a consciência da dimensão dos momentos que vivemos. Fomos testemunhas de um filme cujo alcance completo ainda não apreendemos em toda a sua plenitude.
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