terça-feira, 5 de outubro de 2010

Monarquia e República ou o denotador de uma Revolução

Sou monárquico, como muitos sabem mas não faço disso grande alarde, nem pertenço a nenhuma associação monárquica.
Contribuí, no entanto, activamente, para que no processo de revisão constitucional de 1997, a Constituição deixasse de ter como limite material das revisões, a forma republicana de governo, apresentando uma proposta de revisão que, em alternativa, colocava como limite material a forma democrática de governo.
Votada na especialidade, em Plenário, a proposta recebeu 44 votos favoráveis, entre os quais alguns republicanos como Barbosa de Melo, José Saraiva, Pedro Roseta, Manuel Monteiro, Jorge Ferreira e Nuno Abecasis.
Mais importante que o número de votos favoráveis que recebeu foi o facto de a matéria ter suscitado um debate parlamentar que se prolongou por mais de 1 hora, para desespero daqueles que antidemocraticamente pretendiam despachar rapidamente o assunto, sem debate e sem contradita.
Perante uma proposta de texto constitucional incontestavelmente melhor, era evidente a incomodidade dos que, plenos de dogmatismo,votaram contra.
A questão que, em 1997 e hoje, se coloca não é, portanto, de opção entre monarquia e república mas a de saber porque é que não é conferida ao povo a liberdade de escolher.
No dia em que essa liberdade for conferida, então cá estaremos, neste blogue e por todo o País, a debater as vantagens e as desvantagens daquelas duas formas de governo.
Por estes dias, lendo e ouvindo o que se tem escrito e falado sobre o clima que antecedeu a golpe de Estado de 5 de Outubro de 1910, praticamente só encontro paralelismos com aquele que hoje se vive.
Se andarmos para trás na nossa história, encontramos outras revoluções que foram antecedidas por situações semelhantes à actual.
Recordo apenas o brutal aumento de impostos lançado em 1637, que deu o mote para a revolução de 1640.
Sucede que hoje já não temos a coragem para fazer revoluções (ou golpes de Estado), pegar em armas e ir para a rua, assaltar (fisicamente) os centros do Poder, bombardear a partir do Tejo o Palácio de S. Bento e o Palácio de Belém.
Como todos sabemos, as revoluções não são feitas pelo povo, mas por uma vanguarda que se aproveita do descontentamento do povo.
Como acredito que o agravar do clima vai produzir uma Revolta popular, também acredito que surgirá aquela vanguarda.
E quando isso acontecer, não tenhamos dúvidas que os defensores do regime não terão a força anímica para o defender, como aconteceu a 4 de Outubro e no 25 de Abril.

1 comentário:

  1. O problema, meu caro Gonçalo, é que houve tempos em que alguns estavam dispostos a perder a Vida para lutarem pelos valores, pela ética, pela integridade dos regimes e das instituições. Agora são poucos, ou quase nenhuns, os disponíveis para abandonarem o seu conforto, o seu comodismo, o seu dia a dia.

    Não faltarão vozes dizendo que os tempos são outros, mas não terá o argumento suado sempre que alguém se preparou para uma Revolução?

    Hoje, bom hoje, fazemos blogues, damos palpites e pouco mais...

    Somos, e eu me incluo, diferentes. Não sei para melhor, se para pior. As futuras gerações o dirão!

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