quarta-feira, 21 de abril de 2010

Veto Político

O Presidente da República tem ainda mais alguns dias para decidir o que fazer com o diploma legal que tem como objectivo travestir o instituto jurídico do casamento, permitindo que ele possa ser realizado por duas pessoas do mesmo sexo.

Esta alteração configura uma revolução cultural relativamente à situação actual enraizada na sociedade portuguesa há muito, muito tempo.

O PSD e o CDS defenderam nos seus programas eleitorais, com que se apresentaram às últimas eleições legislativas, que o modelo de casamento não devia ser alterado.

É difícil sustentar que a maioria dos eleitores que votaram no PS e mesmo no PCP, nas últimas eleições, sejam a favor da mudança projectada na lei aprovada no Parlamento.

Cavaco Silva, que foi eleito Presidente da República com mais de 50% dos votos nas últimas eleições presidenciais, não tinha no seu manifesto eleitoral qualquer proposta que visasse que o casamento pudesse passar a ser contraído por 2 pessoas do mesmo sexo.

Um modificação deste calibre, amplitude e alcance só deveria fazer-se, se os portugueses lhe dessem a sua anuência em referendo específico sobre a matéria.

A honestidade intelectual em democracia a isso obrigava.

Até agora, os partidos que votaram a lei na Assembleia da República, opuseram-se sempre à convocação do referendo e lá saberão porquê...

Mas agora, o Presidente da República tem nas mãos a assunção de uma posição política, que tem que ser clara e inequívoca e que só pode ser uma, à luz dos factos atrás sintetizados: o veto político a esta lei e a sua consequente devolução à Assembleia da República.

Os pragmáticos e os cínicos dirão que essa atitude é dispensável, por inconsequente, porque a maioria dos parlamentares confirmará a lei e, portanto, o veto não produz qualquer efeito.

Em política, mesmo sabendo-se que as acções que tomamos podem não ter o resultado que pretendemos, é crucial afirmarem-se posições de princípio.

E o assunto em apreço é demasiado relevante para que se o deixe passar sem assunção de posições de princípio.

O mínimo que o Presidente da República deve fazer é vetar politicamente a lei e na mensagem que enviar à AR a devolver o diploma, instar os deputados a que aprovem a convocação de um referendo.

O máximo que pode fazer é não promulgar a lei, mesmo que ela seja reconfirmada, já que sempre gostaria de saber quais as consequências da não promulgação; trata-se de dúvida jurídica que me assalta há muito...

Se nada fizer, Cavaco Silva, para além da ajuda que dá à eventual eleição de Manuel Alegre na próxima disputa presidencial, está subliminarmente a defender que o melhor mesmo é Portugal passar a dispor de um regime monárquico (curiosamente no ano em que se comemora o centenário da República), o que, pessoalmente, até me parece uma boa ideia!

Porque ter um Presidente da República, que não passa de um notário, ou de um mero transmissor de correspondência, não tem efectivamente qualquer utilidade.

Sem comentários:

Enviar um comentário