quinta-feira, 20 de maio de 2010

A Promulgação

Tenho perfeita consciência de que no meio da dramaticíssima situação económica e financeira que submerge o nosso país, os portugueses estão, quase exclusivamente e apenas, preocupados com o acréscimo de impostos que lhes foi infligido, com o desemprego que ataca já mais de 10% da população activa e com o agravamento das suas condições de vida, o que é natural, até porque o que vislumbram num futuro breve é a queda do precipício....

Por isso, se nem as escutas "avassaladoras" já têm importância, porque razão haveriam de valorizar, positiva ou negativamente, a promulgação pelo Presidente da República do casamento entre 2 pessoas do mesmo sexo?

Cada um que faça o que quiser, desde que não me importune, parece ser a palavra de ordem que subjaz a esta apatia.

Aliás, estou mesmo convencido, de que se o Presidente (o que não seria de todo imprevisível face ao argumentário invocado nesta sua decisão de promulgação) tivesse dado o acordo aos casamentos poligâmicos e a outas aberrações pseudo modernas, a indiferença do povo seria similar. Nem sei mesmo se estivesse em causa a pena de morte, se as pessoas se incomodariam!

Mas eu, pese embora as preocupações, e que são muitas, que tenho em matéria económica e financeira (com 4 filhos em idade escolar...) não posso deixar de exprimir a minha indignação com a atitude de Cavaco Silva.

Aníbal António, de sua graça, fez de uma penada o que jamais alguém em muitos séculos de história ousou fazer em Portugal: decidir uma revolução socio-cultural, sem que os portugueses fossem auscultados.

"Pragmaticamente" preferiu tratar de tentar reforçar as hipóteses da sua reeleição (julga ele), em vez de afirmar princípios e invocar valores, encontrando motivações aparentemente "éticas" para uma solução "imposta" pelo Bloco de Esquerda, com o conúbio dos partidos que cinica e hipocritamente diziam ser contra esta alteração, mas aprovaram em 2004 a revisão constitucional que legitimou a modificação de um instituto jurídico com tradição arreigada na esmagadora maioria dos paises do planeta.

Não me desiludiu Cavaco Silva, porque simplesmente nunca me iludiu, assim como não posso dizer que perdeu o meu voto, porque também nunca lho dei.

Mas espero que em Janeiro de 2011, quando depositarem o voto na urna, os portugueses que ainda não se resignaram a tudo e a todos (que tenho esperança ainda sejam alguns), tenham bem presente o que fez, mas principalmente o que não fez, Aníbal António Cavaco Silva no mês de Maio do ano anterior.

É por isso, caro António Tavares, que ao dar-lhe as boas vindas de entrada neste espaço de liberdade que é A Revolta, não posso deixar de exprimir a minha profunda oposição ao que sobre a matéria recentemente aqui postulou.

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