terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O REALISMO DA TRAGÉDIA MADEIRENSE

Quando há uma tragédia em quem pensamos? Primeiro nos familiares, depois nos amigos, depois nos vizinhos e nos conhecidos. Foi assim no passado é assim no presente e será assim no futuro. Nestes momentos a imediata preocupação dos cidadãos é salvar, ajudar, reconstruir, recomeçar. Não há espaço para mais nada. Indefesas, inseguras, intranquilas, incrédulas, as pessoas ficam alheias e distantes de discursos, de declarações, de polémicas. É ainda nestes momentos que as ondas de solidariedade se erguem e que os adversários fazem tréguas. Dir – se – ia que o egoísmo desaparece e que o mundo de concórdia e de inter – ajuda surge. A política e o seu combate ficam para segundo plano, sendo quase um crime falar ou erguer a voz sobre questões que não digam exclusivamente respeito ao salvamento de pessoas e bens, à reconstrução de casas, de empresas e de infra – estruturas.
Mas na verdade há quem conhecendo este estado de espírito proceda com aparente parcimónia, e muita inteligência, em sentido contrário. Quem diz não haver lugar nestes momentos para fazer política está simplesmente a fazê – la. A inibição que pretende criar nos seus adversários é apenas o salvo-conduto para poder estar tranquilo, e só, no campo político.
Assistimos a isto mesmo na Madeira, não deixando aliás de ser curioso que Alberto João Jardim atacando os que agora “fazem política”, anuncie ao mesmo tempo ter – se aberto um novo ciclo político para a Região. Percebe – se a sua “jogada”. Por ironia do destino a catástrofe foi o melhor que lhe podia ter sucedido. Estava sem dinheiro, desesperado, sem saber como contentar a clientela, isolado politicamente e ainda sem soluções para o futuro. Os seus problemas desapareceram. Vai receber o que nunca pensou agora ter e vai querer surgir como o “marquês de pombal madeirense”. Não é por acaso que fala de um “novo ciclo político”. Para trás ficarão as centenas de casas clandestinas que permitiu e patrocinou, muitas das quais agora caíram; para trás ficarão as obras que deixou fazer em nome dos votos, em espaços onde nunca deveriam ter sido construídas; para trás ficarão os atentados urbanísticos que cultivou colocando em causa a segurança dos solos; para trás ficará a desflorestação feita sem critério e que agora deixou as águas ainda mais livres para seguirem o seu curso. Para trás ficam, apagadas pela lama, as acções e omissões de um dirigente incapaz, impreparado e incompetente. É uma triste realidade aquela que pode transformar o futuro da Madeira, num desastroso regresso ao passado.

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